Era inevitável, tive realmente de telefonar, foi mais forte que eu, finalmente lembrei-me do número do telemóvel, eu no fundo sabia o número só não me lembrava qual era a rede, e assim lá lhe liguei. Confesso que estava um pouco nervoso e suava que nem uma salsicha fresca no grelhador.
- Olá... sou eu.
- Ah, és tu tudo bem contigo minha ameba gigante?
- Mais ou menos e contigo? Espera, antes de continuares e sei que queres falar muito comigo não te importas de me telefonar... é que estou a ficar sem saldo.
- És sempre a mesma coisa, desliga lá que eu já te telefono... irra.
Estes momentos de angustia enquanto espero que ela me telefone de volta deixando-me em dúvida. Será que o vai fazer? Por momentos espero que não pois o meu coração já salta mais rápido que o preço da gasolina. Mas faço um exercício de meditação para me acalmar que consiste em rodopiar a cabeça até ficar tonto e cair desamparado no chão. Lá me recomponho.
Mas o telefone toca atendo, sem dar tempo canto com uma afinação impecável, lembrando a mim próprio que não fico nada a dever a qualquer desses convidados dos programas da manhã da televisão. I just call to say i love youuuuuuu, I just call...
- Que linda voz... por acaso não sabes aquela do Paulo Gonzo Jardins de Pedra é que tenho um fetechezinho por cemitérios e pela Ilha da Páscoa...
- Quem fala?
- Desculpe, já estava tão envolvida que me esqueci... é do banco para lhe dizer que a sua conta está a negativo e é preciso por algum dinheirinho, percebe? Mas que linda voz que tem, não quer cantar mais um pouco, é que trabalhar nas cobranças é tão aborrecido...
- E tem alguma preferência?
- Pode ser qualquer uma do José Malhoa...
- E a frase qual é?
- Se és chato e gostas destas andanças o teu futuro é o departamento de cobranças
- Está certo. Já agora a única que eu sei tem a pequena Ana Malhoa na voz feminina. Tu cantas a parte dela e eu a dele.
E assim fizemos um dueto com um esplendor de fazer inveja a muita gente, toda a gente riu e dançou e o departamento de cobranças tornou-se num local muito mais feliz e todos ficaram mais gordos e bem dispostos, acompanhando-nos em coro a uma só voz.
- Canta mais uma, vá lá...
- Desculpa mas não posso, estou à espera de um telefonema importantíssimo e já demorei muito tempo, apesar de ter sido divertido... não foi?
- E não é que foi mesmo... agora só a questão do dinheirinho.
- Bom... se me telefonares daqui a meia hora eu canto-te mais uma cançãozita, falamos do dinheiro e quem sabe... combinamos qualquer coisa.
- Pode ser... tocas-me a Appassionata de Mozart?
- Mas isso é só piano.
- Fazes só com o som das teclas... deixa-me completamente extasiada e com vontade de soltar o cabelo e fazer loucuras...
- Aaaaaaa, bem... se te deixa nesse estado deixa que te diga que consigo tocar uma sinfonia completa só com o polegar.
(continua)
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