Quarta-feira, 6 de Outubro de 2004

A minha namorada - poesias

Tendo aproveitado este tempo em que estive sentado em cima do fogão para recuperar do choque que tive quando soube toda a verdade sobre a minha vida, fiquei a meditar sobre aquilo que os meus amigos pensam de mim. Acham-me assim um pouco superficial e pouco dado a intelectualidades. Nesta nova fase da minha vida em que tive bastante tempo para ler, ver televisão e jogar mikado cheguei à conclusão que tenho uma grande capacidade de conseguir ler nas entrelinhas de poesias que à partida parecem complicadas. Com o tempo estive a analisar algumas poesias e acho que de facto tenho um jeito inato para interpretar as coisas e que de algum modo vai desmistificar a minha aparente ingenuidade.


EPITÁFIO


Leucis, que almejava a uma grande Paixão


Acaba por não ter mais do que boa vontade em ser prestável.


Aí está uma situação pela qual todos nós passamos. Somos seres que sempre buscam algo de especial, mas no fundo vamos morrer sem ter feito nada de útil a não ser que sejamos torneiros mecânicos ou serralheiros.


PHYLLIDULA


Phyllidula é magra e amorosa,


E assim os deuses concederam-lhe


Que no prazer recebe mais do que pode conceder;


Se ela não achar isto uma coisa bendita,


Então é melhor mudar de religião.


Aqui é óbvio que é o caso de uma mulher cheia de sorte. Tem um parceiro que lhe proporciona momentos de grande prazer e não espera que ela faça o mesmo por ele. A questão de ser magra e amorosa é uma constatação de que nem só as gordas são queridas. Obviamente que neste caso mudar de religião está completamente fora de causa.


OS PADRÕES


Erinna é uma mãe modelo, Os seus filhos nunca descobriram os seus adultérios.


Lalage é também uma mãe modelo, Os seus rebentos são gordos e felizes.


Aqui não é preciso explicar nada, já que salta à vista que uma mãe adúltera pode ter filhos gordos e felizes desde que não seja descoberta, caso contrário as crianças definham e podem começar a usar pijamas com ursos.


CASA DE CHÁ


A rapariga da casa de chá


              Não é tão bonita como era,


O Agosto já a desgastara;


Sim, também ela se aproxima da meia-idade,


E o brilho da juventude que ela espalhava sobre nós


              Quando nos trazia bolos secos


Já não se espalhará mais sobre nós.


Também ela se aproxima da meia-idade.


Aqui constato que se está a falar da mesma pessoa apesar de numa primeira leitura parecer que se fala em duas pessoas diferentes…puro engano. A rapariga que traz o chá é a mesma que espalha os bolos. Neste poema a mensagem também é clara, é um aviso para as pessoas fazerem exercício físico pois assim nunca terão dificuldades em subir escadas e não deixam cair os bolos em cima das pessoas o que em alguns casos pode provocar danos irreparáveis sobre a roupa principalmente se se utiliza padrões escoceses.


OS TRÊS POETAS


Cândida arranjou um novo amante


E três poetas ficaram de luto.


O primeiro escreveu uma longa elegia dedicada a «Cloris»,


A «Cloris casta e fria», a sua «única Cloris».


O segundo escreveu um soneto


             acerca da mutabilidade da mulher,


E o terceiro escreve um epigrama a Cândida.


Clóris diminutivo porque era conhecida a Cândida era uma mulher muito prestável e fazia uns doces de ovos que deixava qualquer um de boca aberta, por isso a facilidade com que arrebatava paixões. Aquele primeiro poeta escreveu uma elegia o que para quem não sabe tem a ver com um poema dedicado a acontecimentos tristes e com a métrica, ou seja escreveu pelo menos dois rolos de cozinha que perfaziam 18 metros. O segundo não era tão esperto o que se prova por ter escrito um soneto sobre a mutabilidade da mulher, mais uma vez explico que o soneto é constituído por catorze versos decassílabos mas devido à complexidade do tema transformou-se em três mil quinhentos e setenta e três versos e ainda não acabou. O terceiro foi mais comedido e escreveu um epigrama, obviamente que por ter um sentido satírico pressupunha o nosso poeta que tivesse bastante graça, mas a mãe dela não gostou e obrigou-o a andar com um balde na cabeça até ao fim da vida.


UM OBJECTO


Esta coisa, que tem nome mas não cerne,


Só conhecimentos há,


              que não afectos.


Entanto, nada lhe perturba os reflexos.


TS’AI CHI’H


As pétalas caem na fonte,


           As folhas de chá cor de laranja,


O seu ocre agarra-se à pedra.


Completamente descabidos de sentido, apesar do meu grande esforço por tentar perceber. Serve sobretudo para decorar e impressionar alguém, mas não deve ser levado demasiado a sério correndo o risco de nos acharem tontos.


EPITÁFIOS


Fu I, que olhava para cima mas vivia em baixo,


Morreu a sonhar – bêbado como um cacho.


E Li Po também se foi toldado,


No mesmo contexto e com o mesmo nexo:


Abraçou a lua – ou o seu reflexo


No Rio Amarelo. Morreu afogado.


Sem qualquer tipo de comentário tal a subtileza da mensagem e todo o esplendor que provoca este poema nas almas mais sensíveis.

publicado por gifted_children às 23:23
link | favorito
De Anónimo a 14 de Outubro de 2004 às 00:50
És genial! Não pares, nunca pares.cósimo
</a>
(mailto:fsf@dszf.cov)


Comentar:
De
( )Anónimo- este blog não permite a publicação de comentários anónimos.
(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres