Senti-me completamente desamparado em frente ao Mosteiro dos Jerónimos e observei com algum cuidado os pormenores interessantes de toda aquela zona e comecei a sentir que devia dar mais atenção às pequenas coisas da vida como os passarinhos a cantar, toda aquela beleza natural e arquitectural, depressa passou-me e fui comer um pastel de Belém.
Continuava intrigado com os desenvolvimentos desta história e resolvi voltar a Alcântara dentro do velho Mercedes 190D que me transportou.
Quando cheguei encontrei encostado ao meu Mercedes um pequeno homem com um sobretudo da Maconde e umas calcinhas da C&A. Não liguei importância e só esperei que não tivesse raspado a pintura iridium silver do meu carro.
- Sou o Inspector Mendoça da Polícia Judiciária, será que podiamos falar cinco minutinhos - disse enquanto apontava para o Citizen Echo-Drive que trazia no pulso.
- Por acaso até me importo tenho coisas a fazer e não tenho nem cinco minutos a perder.
- Acho que vai achar a nossa conversa bastante interessante.
Achei aquele tom de voz o ameaçador que baste para anuir a perder algum tempo a ouvir o que queria de mim, que mais estranhas coisas podiam se passar. Já estava por tudo.
- A sala do castelo é deserta e espelhada.
Tenho medo de Mim. Quem sou?? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi Em sombra estilizada,
A cor morreu e até o ar é uma ruína
Vem de outro tempo a luz que me ilumina -
Um som opaco me dilui em Rei
- Desculpe, mas acho que não percebi nada.
- Gosto sempre de dizer uma poesia antes de começar uma conversa, assim dou um ar mais culto e sofisticado e as pessoas esquecem que sou polícia.
- Já me conseguiu deprimir.
- Mas vamos ao que interessa.
Finalmente senti que alguém tinha as respostas para as minhas preces. Afinal quem melhor do que a polícia para me esclarecer da situação e de uma vez por todas me aliviar deste fardo ando a carregar.
- Vou ser muito directo. Achamos que você matou esta mulher.
Mostrou-me uma fotografia de uma mulher que reconheci como a Vanessa deitada sobre uma roupa de cama da Gant.
- Conhece esta mulher?
- Conhecer não conheço, mas tenho a leve impressão que já a vi em algum lado talvez do Lux, é a que a partir de certa hora todas me parecem iguais.
- Sim, mas esta vejo que reconhece.
- Pois, mas a mim não me parece morta, pode muito bem estar a dormir. Veja como está com um ar descansado.
- Está a duvidar da nossa Polícia Científica, todos eles veêm o C.S.I. sabem muito bem quando uma pessoa está morta, além disso tem uma fuzil Mauser alemão da 2ª Guerra cravado nas costas.
- Sendo assim não há que contestar, mas não fui eu que a matei, era incapaz de matar uma mosca e Deus sabe como muitas merecem.
- Temos um vídeo que prova o contrário. Tira do casco uma Sony DCR-TRV80 onde põe a rodar uma sequência de imagens.
Olho estupefacto para tudo aquilo e fico sem palavras para descrever o que me senti na altura.
- Então, está convencido?
- Mas está tudo escuro, não se vê nada de nada.
- Não vê aquela pessoa de bigode a entrar na portaria do Pine Cliffs Resort?
- Mais ou menos.
- Está a dizer que não se reconhece, bem me parecia que se ía fazer de difícil.
- Essa pessoa usa bigode.
- Pois, pois, provavelmente rapou-o ou então tinha um bigode falso. Onde esteve na noite passada. A noite de tão hediondo crime.
- A verdade é que não me lembro.
- Isso é muito conveniente. É a desculpa mais velha que costumamos ouvir. Também não vê a camisola branca da Guess que se vê nas filmagens.
- Qualquer pessoa pode ter uma camisola branca.
- Assim tão apertada? julgo que não.
- No fundo tudo o que têm contra mim é apenas a filmagem de uma pessoa de bigode e camisola branca a entrar no hotel? Que grandes provas.
- Calma guardei o melhor para o fim. A empregada que descobriu o corpo sentiu um cheiro a Santos da Cartier. Também me vai dizer que não usa este perfume?
- Bem pondo nestes termos é um facto que uso mas provavelmente outras pessoas também o usarão. Mas como é que vieram até mim?
- Foi fácil, seguimos o rasto da mala
- A mala
(continua)
É verdade... espero que todos os que ainda vão aparecendo e a todos aqueles que me conhecem "pessoalmente" que tenham passado um óptimo Natal e um excelente ano novo. Ainda bem que vão aparecendo que eu também vou aparecer assim que ler o que já escrevi e que não faço ideia do que seja. Agradecendo a todos e desejando a continuação de ano feliz, com muita paz, amor etc. etc., ou seja tudo o que uma Miss Universo diz muito melhor que eu.
Beijinhos e Abraço e um até já
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