(continuação)
Eu - Olá amigos, que surpresa ver-vos aqui.
Eles em coro - Oh não, pensávamos que já nos tínhamos livrado de ti.
Eu - Bolas, vocês sabem mesmo uma pessoa sentir-se mal, quase que me sinto com uma mosca varejeira à volta de uma sardinha com todos a quererem a expulsar.
Eles em coro Mas é isso mesmo que tu és.
Eu - Uma mosca?!
Eles em coro - Não uma sardinha.
Eu - ?
Eles em coro - Mas o que estás aqui a fazer, supostamente devias ter-nos visto e passado para outro lado.
Eu - Nada, vi-os ao longe e bem que me pareciam vocês e como somos amigos
Eles em coro - Nós não somos teus amigos.
Eu - Porque é que estão a falar em coro.
Eles em coro - Porque somos almas gémeas.
Eu - Bolas, deixem-me sentar no meio de vocês que estou com medo que fiquem siameses ah, como é bom estar aqui no meio do meu amigo e da minha extraordinariamente modificada ex-namorada. Sabes que estás lindíssima?
Ela - Achas??!
Eu - Já te disseram que estás fantástica, fizeste uma dieta e tanto.
Ela - É verdade, comi rojões durante um mês e olha só o resultado.
Eu - De facto estás magnifica... talvez possamos tomar um café esta noite e conversar melhor sobre essa tua dieta miraculosa. Essa mini-saia e essa blusa decotada fica-te mesmo bem.
Ela - Achas??! Se calhar estás a exagerar.
Eu - De todo. Pareces uma princesa. Lembras-te quando eu te chamava minha princesa?
Ela - Nunca me chamaste princesa!
Eu - Pois não, mas devia.
Ele - Por acaso não se estão a esquecer que estou aqui.
Eu - Como poderia esquecer se o teu cabelo está a fazer-me cócegas no pescoço.
Ele - É que me parece que andas a comer muita sopinha de elásticos, já te estás a esticar muito. Ela agora é minha e escusas de por esse teu olharzinho para a minha noiva e começar a tirar a mãozinha do joelho, principalmente porque estás a segurar o meu.
Eu - Não sejas assim, afinal ela foi minha namorada e partilhamos muitas coisas. Os nossos medos, os nossos desejos, os nossos anseios.
Ela - Nunca me lembro de termos partilhado o que quer que fosse.
Eu - Isso não é verdade, lembro-me perfeitamente de termos partilhado um saboroso croquete de ervilhas.
Ela - Isso não foi bem partilhar, agarraste o croquete, fugiste e foste comer para baixo da ponte sobre o Tejo.
Eu - Pois, mas sabes que era a única maneira de deitar a mão a qualquer coisa para comer quando estava contigo.
Ele - Eu ainda estou aqui.
Eu - E estás muito bem, o teu cabelo dá uma sombra fantástica, podes chegar-te mais um pouco? Como eu ia dizendo antes de ser tão mal-educadamente interrompido bom podíamos ir sair, aposto que tens muitas coisas para me contar.
Ele - Ela não tem nada para te contar.
Ela - Agora já falas por mim?
Ele - Pensei que fossemos almas gémeas.
Ela - Pensando bem, acho que essa coisa das almas gémeas não existe, mas o que é real? O mundo, como nós o conhecemos, é irracional e absurdo, ou pelo menos está além de nossa total compreensão, nenhuma explicação final pode ser dada para o facto de ele ser da maneira que é. A ideia original de que não existe qualquer predeterminação com respeito ao Homem, e que esta indeterminação e liberdade levam o Homem a uma permanente angústia.
Nós os dois - Estás a falar do quê?
Ela - É que estive a ler umas coisas filosóficas e cheguei à conclusão que o Kierkegaard tem razão: "no homem, a existência precede a essência"
Nós os dois - O que é que isso tem a ver com o que estávamos a falar?
Ela - Nada, é que além de agora ser magnificamente bonita, também sou muito inteligente e leio muito. Sei muitas coisas.
Eu - Pois isso é tudo muito interessante mas e a nossa saídinha, sempre fica de pé?
Ele - Não vais sair com ele depois de tudo o que ele te fez passar?
Ela - Já agora também decides aquilo que faço ou deixo de fazer.
Ele - É isso mesmo minha querida, quem é que ele julga que é, tu és uma mulher com convicções e com vontade própria, não é esse cabeça de arbusto que te diz o que fazer.
Ela - Acho que tens razão, a partir de hoje vou tomar as minhas próprias decisões e não precisarei de nada nem ninguém para me guiar, orientar ou para dizer que devo fazer hum para que lado apanho autocarro?
Nós os dois - Por ali. (continua)
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