Terça-feira, 21 de Setembro de 2004

A minha namorada - a revelação

Depois de reatar tudo com a minha querida namorada, estava mais feliz que nunca, decidimos ir procurar casa, ver escolas primárias e universidades para termos tudo planeado para a vida das nossas crianças.


Pediu-me para ir-mos ver o tio dela para ele dar a bênção ao nosso casamento já que era o familiar preferido dela, gostava sempre que podia conversar com ele e não quis deixar de partilhar a alegria que sentíamos.


- Querido tio… tenho uma excelente notícia para te dar.


- Compraste-me um canivete suíço?


- Não, vou casar…


- Vais casar? Com esse aí?! Bom… então que está na altura de termos uma conversa… senta-te aqui ao pé de mim. Acho que agora que vais dar esse passo está na altura de saberes toda a verdade…


- Que verdade?


- Eu sei que te vai custar muito a saber, mas aquele a quem sempre chamaste pai não é o teu verdadeiro pai.


- Como assim? Não posso acreditar que já o deixei ver-me nua! Não percebo o que estás a dizer… então quem é o meu verdadeiro pai?


- Eu sou o teu pai


- O tio… quer dizer… pai… és o meu pai?!


- Sim, sou o teu pai.


- Quer dizer que teve um caso com a minha mãe? Não esperava isso.


- Aquela que tu pensas ser a tua mãe é na verdade a irmã gémea de uma sobrinha do teu avô.


- Qual delas?


- Não sei. Sei que não é a que vive com uma morsa e toca gaita-de-foles.


- Essa não era aquela que vivia com outra senhora e que toda a gente dizia que ela não gostava de homens!?


- Não, essa era uma das trigémeas da tua avó… a tua verdadeira mãe fugiu durante anos e só falava com um homenzinho verde que toda a gente jura que nunca viu.


- Quer dizer que o meu avô que andou comigo ao colo quando eu era pequena não é meu avô.


- É teu avô… só que não da parte do teu pai, mas sim da tua mãe.


- Isso quer dizer que se o meu avô paterno é na verdade o meu avô materno, então quem é o meu avô paterno?


- O teu avô paterno é na realidade quem tu sempre pensaste ser a irmã daquela que tu julgavas mãe… sim a tua tia é o teu avô.


- Eu bem que devia ter desconfiado pois ela sempre que ia à casa de banho deixava sempre a tampa da sanita para cima.


- Devias ter desconfiado do bigode.


- Julgava ser uma disfunção hormonal.


- A minha maninha mais velha?! Também é tua filha?


- Não, um dia foi vender enciclopédias e produtos da Avon e nunca mais saiu de lá, nunca ninguém percebeu porquê.


- Então porque nunca me disse que era meu pai? Deixando-me na ilusão durante todos estes anos?


- Não foi fácil, achei que era melhor para ti… já que… bom… lembras-te do teu tio? O irmão mais velho daquele que supunhas ser teu pai?


- Claro que me lembro…


- Pois… mantivemos uma relação amorosa durante anos que acabou quando descobri que ele comia as minha bolachas de milho às escondidas. Teve um desgosto tão grande que hoje lambe selos nos Correios. Por isso não te quis dizer… não queria perturbar o teu desenvolvimento sabendo tu esta terrível verdade.


- Então o meu verdadeiro pai é gay?


- Não, sou bicha mesmo, se fosse gay tinha um carro descapotável, deixavam-me entrar no Lux e aparecia em todas as revistas do social.


- E a minha mãe? Onde estará ela? Gostava tanto de a poder conhecer e falar com ela.


- A verdade é que nunca mais ninguém a viu. Ouvi dizer na altura por uma enteada da prima da cunhada do teu tio, que na verdade não é teu tio, mas teu primo em 2º grau que quando se foi embora levou dois pacotes de manteiga para barrar e a nossa medalha do vigésimo quinto aniversário de sócio do Centro Cultural e Recreativo do Bombarral, além disso estava grávida, mas ninguém sabe se isso é verdade já que a pobre rapariga foi internada compulsivamente por mandar ameixas às pessoas e servir gelados derretidos.


Neste momento veio-me uma luz e não pude deixar de intervir. Seria possível?


- Uma medalha como esta aqui? – Retorqui.


- Exactamente como essa. Onde a arranjaste?


- A minha verdadeira mãe antes de se ir embora para um culto religioso em que acreditavam que Deus era uma galinha disfarçada de lombriga, disse-me estas palavras que nunca esqueci: “filho, eu sei que não tenho muito para te dar, por isso vou dar-te a coisa mais valiosa que tenho, quero que a guardes para sempre, como um tesouro, no caso de a venderes, lembras-te daquilo que eu disse sobre isto ser de ouro branco e diamantes… não faças caso.”


- Meu Deus… é esta a medalha…


- Não pode ser, pode haver milhares como essa…


- Quantos sócios achas que tem o Centro Cultural e Recreativo do Bombarral?


- Dois??!?!?!?


- Nem mais, era eu e pelos vistos a tua mãe.


- Isso quer dizer exactamente o quê?


- Que eu sou o teu pai…


- Se tu és o meu pai quem é aquele para quem tenho mandado dinheiro durante anos para o Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz?


- Alguma vez o viste?


- Não, mas quando li o anúncio de jornal onde estava escrito, e eu li com estes olhinhos “filho, por favor, perdoa o teu pai, manda-me dinheiro para tabaco e já agora um cesto de frutas”, julguei que era para mim.


Ficámos em silêncio durante alguns minutos e depois caímos na realidade. Olhamos um para o outro e exclamamos:


- Somos irmãos.

publicado por gifted_children às 19:55
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Segunda-feira, 13 de Setembro de 2004

A minha namorada - o retorno

Não há nada como um belo passeio no parque para limpar a cabeça, a outra hipótese é lavar com um bom champô e condicionador e secar a baixa temperatura. O cheiro da relva e das árvores davam-me a sensação de descanso e de paz que tanto precisava. A tristeza consumia-me e chorava num pranto de cada vez que via um casal de namorados, flores viçosas e contentores do lixo.


Quando vejo a minha ex-ex-namorada sentada debaixo de uma árvore com o seu namorado Quim. Pareciam-me tão felizes. Fiquei com uma certa nostalgia ao vê-los a repenicar beijos e vê-los a rir enquanto ele lhe fazia cócegas que logo passou quando no movimento a árvore lhes caiu em cima deixando-os muito melancólicos.


Fui para casa ver a minha colecção de filmes do Steven Seagal num dos seus extraordinários papéis, pois só assim me consigo abstrair de tudo, pois é dos poucos actores que só tem uma expressão, as outras dez são apenas uma mudança da localização das sobrancelhas. Eu admiro-o porque deve ser difícil para ele, tal como comigo, deixar transparecer emoções.


 Tocam à porta. Quem poderia ser a esta hora da noite? Eu sei que eram apenas nove da noite mas já estava a encarnar no Steven Seagal e não me mexi, esperando que quem quer que fosse acabasse por desistir. O que não aconteceu e já a vizinhança toda estava a gritar à minha porta quando por fim me decidi a abrir. Era a minha ex-namorada quem me apareceu à porta.


- Olá


- !?


- Sou eu... voltei!


Claro que adoptei a táctica do Steven e mantive a mesma expressão e o mesmo ar impenetrável e voltei a sentar-me carregando no play do meu velho VHS. Ainda bem que tenho esta colecção de grandes filmes, assim mantive o meu ar indiferente apesar do meu estômago estar a dar mais voltas que uma máquina de lavar roupa cheia de cuecas de presidiários.


- Não queres falar comigo? Voltei, depois de um dia naquele sítio apercebi-me o quanto te amo e que não posso viver sem ti, além disso tive cólicas renais horríveis.


Apetecia-me correr para ela, abraçá-la e beijá-la por 3 segundos que fosse, mas uma das coisas que aprendi com o Steven foi que nestas alturas deve-se apenas levantar ligeiramente a sobrancelha, dar um ar pesaroso como se carregasse o peso do mundo nas costas, suspirar e utilizar sempre o mesmo tom de voz.


- E agora... que estás à espera? Que passado este tempo todo podes voltar à minha vida e começar tudo de novo? Assim sem mais nem mesmo? Depois de tudo o que passei?


- Mas só se passaram 15 dias!


- Sim... mas a gasolina aumentou duas vezes...


Com esta esperava aniquilá-la de vez e deixá-la sem qualquer tipo de argumentação. Servi um copo de água com gelo e dei-lhe ao qual se agarrou e bebeu de um trago. Notei que as mãos lhe tremiam enquanto bebia.


- Acho que não aumentou...


- Talvez... mas podia.


- !? Podes-me dar mais um copo?


- Achas que deves? Tu sabes perfeitamente que te faz mal. E quando começas não consegues parar.


- Estou um pouco nervosa.


- Ok, mas só este e mais nenhum.


Desta vez juntei 3 pedras de gelo ao copo de água esperando eu que ela não sentisse a diferença e achasse que eu estava a ser paternalista. Acho que finalmente estava na posição que queria... por cima., tinha tomado o controlo da situação e sentia que agora ela comia na minha mão. Bendito Steven que me ensinou tanta coisa, olhei para ela com um misto de provocação e ironia, o que se faz levantando a sobrancelha mais dois milímetros.


- E o teu namorado chinês?


- Bem... a realidade é que acho que estava apenas fascinada pela sua coragem, humanidade e vontade de fazer tudo pelos outros... mas nunca o amei de verdade, agora o sei. Além disso tinha perdido o tronco quando pôs o corpo fora da janela do carro e passou um camião que lhe levou a cabeça. Depois disso nunca mais foi o mesmo, sentia-se inferiorizado por apenas ter a cabeça o que fazia que só cantasse música tirolesa.


- E os teus amigos?


- Os meus amigos juntaram-se a um grupo de ciganos romenos, onde estavam a encenar a peça Cats com focas amestradas.


A minha mente estava dividida, o que faria o Steven Seagal numa situação destas? Provavelmente já tinha dado dois golpes de aikido na gaja, fazendo o olhar nº 3 (arqueando a sobrancelha direita, mantendo a esquerda em absoluta contracção). Eu próprio bebi um copo de água, só que para mim... sem gelo, água pura e cristalina como eu gosto.


- Sabes miúda… não se deve brincar assim com os sentimentos das pessoas, a não ser que a brincadeira meta duas suecas à luta na lama.


- Eu sei que te magoei… como é que posso de alguma maneira compensar-te.


- Para vocês mulheres pensam que é tudo fácil. Basta virem insinuarem-se sexualmente que sabem que um homem não resiste. Vêem com os vossos encantos, sorriem provocatoriamente, deixam cair de propósito a alça do top esperando que vejamos um pouco de pele e ficarmos com o sangue a ferver. Mexem no cabelo despenteando-o e molhando os lábios com a língua. Eu conheço todos os truques. Mas eu não sou assim tão fácil.


- Eu não fiz nada disso.


- Pois não, pois não… é pena.


- Achas que ainda temos hipótese de tentar tudo de novo?


Nesta altura fiz mais uma expressão do Steven que só os entendidos conseguem perceber mas que demonstra uma grande carga dramática que só está ao alcance dos grandes actores. Franzi a testa mostrando apenas três rugas de expressão, afinal já tinha treinado várias vezes, mas acho que desta me correu particularmente bem.


- Deixa-me pensar… ainda estou a tentar apanhar os pedaços de coração que friamente partiste quando te foste embora.


- Vou-me embora então… quando quiseres sabes onde me encontrar. O meu número está na lista.


- Porque achas que ía me dar ao trabalho de procurar o teu número na lista telefónica.


- Está na lista dos teus números de telemóvel.


- Bom, assim torna as coisas mais fáceis. Adeus miúda…


Sentei-me e bebi mais um copo de água, desta vez duplo. Será que fiz bem em tê-la deixado ir embora assim, quando a minha vontade era que ficasse e nunca mais se fosse embora. Esta história dos filmes em que não se fica com a miúda no fim e ficamos com um ar miseravelmente infeliz não combina comigo.


- Queridaaaaaaaaaaaaaaaaa…

publicado por gifted_children às 21:57
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Terça-feira, 7 de Setembro de 2004

A minha namorada - confissão

Nada me corre bem. Tentei procurar o sentido do porquê de não ter sorte com as mulheres, o que me levou à 12ª tentativa de suicídio, desta vez não fiz por menos e vi a TVI durante 48 horas seguidas sem me mexer, mas só consegui ganhar urticária e um dedo do pé dormente.


Como é que algo que parecia correr tão bem pode acabar desta maneira abrupta, deste modo ocorreu-me ao pensamento a utilidade do micro-ondas numa tenda de campismo.


Será de mim? Perguntei a mim próprio.


- Será de mim?


- Acho que não, mas se for peço imensas desculpas pela inconveniência.


- És tu no fundo o culpado de nada me correr bem.


- Se for, mil perdões.


- Se não existisses nada disto me tinha acontecido.


- É triste, mas não há nada que eu possa fazer sem ser pedir desculpas por mil anos.


Vi logo que esta conversa comigo próprio não me ia levar a lado nenhum, já que dificilmente me consigo dar ouvidos. Além disso seria incapaz de me ofender, a não ser quando desejei que a senhora da limpeza das escadas se vestisse como a Pipi das Meias Altas.


A verdade é que não me sentia assim tão triste e deprimido desde que soube que o Paulo Portas e o Ministro da Defesa eram só uma e a mesma pessoa.


Serei eu amaldiçoado por um destino que me leva a ter de ficar sujeito a estar permanentemente sozinho? É um facto que não vou à igreja desde... a verdade é que nunca lá fui, será essa a razão do meu sofrer? Será por ter surripiado uns caramelos no consultório do pediatra? Será um sinal dos céus para deixar esta minha vida e abraçar o mundo eclesiástico? Será que tenho os níveis de açúcar muito baixos?


Só havia um sítio onde todas as minhas dúvidas podiam ser tiradas. Fui à igreja falar com o padre de serviço. Por alguns momentos ainda pensei ir ao confessionário mas a minha claustrofobia e a mania que as pessoas têm de lá estar sozinhas não me permitiu, por fim lá apanhei o padre e fui falar com ele.


- Senhor padre.


- Diz, meu filho.


- Eu precisava de falar consigo sobre um problema que me apoquenta.


- Agora as confissões já acabaram, agora é um bocadinho mais caro… estás a ver… horas extraordinárias.


- É preciso pagar?


- A vida custa a todos e não há milagres… percebeste a piada religiosa?


- Foi muito engraçada.


- Então conta-me lá o que te trás por cá.


- O que passa senhor Padre é que eu gostava de saber o que é preciso para entrar para padre, se é preciso alguns testes físicos ou umas provas específicas ou algo do género.


- Então queres ser padre? E desde quando sentiste o chamamento de Jesus?


- Bem… desde hoje de manhã, apesar de já ter sentido isso, só que me tinham dado uns rebuçados cor-de-rosa na discoteca, por isso acho que não valeu.


- Sabes que a vida de padre não é fácil… é uma vida de sacrifícios. É preciso estudar, estar disposto a abdicar de todos os bens terrenos para nos dedicarmos a servir Jesus, por isso não é para qualquer pessoa, principalmente é preciso vocação. Sentes essa vocação dentro de ti?


- Quer dizer… eu fiz uns testes vocacionais quando andava na escola secundária, mas acho que ainda hoje eles estão a tentar perceber para o é que eu tinha jeito, apesar de me terem dito meio envergonhados que eu dava um excelente cheque sem cobertura, o que ainda hoje não percebi.


- Pois… mas isso só não chega. Ser padre é uma coisa que se tem de ter a certeza que se quer ser para sempre, não pode ser apenas por possivelmente estares a passar por um momento difícil da tua vida. Além disso ganha-se pouco e o seguro dentário não é dos melhores.


- Mas acho que estou disposto a tentar… dá para me pôr à experiência? Assim a recibos verdes, depois se eu realmente não der para isso logo pensamos na minha indemnização compensatória.


- Mas não gostas de mulheres?


- É preciso ser gay para ser padre?


- Claro que não… apesar de haver aqui um sacristão todo jeitoso… bom… isso não interessa e já estava a divagar, mas se quiseres ser padre tens de afastar todos os desejos carnais, será que consegues? És capaz de abdicar dos prazeres da carne?


- Quer dizer… se for uma costeleta de novilho será difícil… mas percebo o que quer dizer, mas também existem as freiras que tenho a certeza que por baixo daquelas roupas deve haver umas bem giras, certo?


- Isso é nos filmes italianos, na realidade aquelas que conheço são um bocadinho para o feiote e além disso já estão casadas com Deus.


- Deus não é lá um tipo com muita sorte…


- Vai para casa, reflecte bem no assunto e se realmente achares que é isso que queres vem falar outra vez comigo mas desta vez no horário de expediente.


- Obrigado senhor padre, vou fazer o que me aconselha, obrigado.


- Vai com Deus e não te esqueças de pôr alguma coisa na caixa das esmolas e tem cuidado que ela só aceita notas senão sai um mata-moscas gigante e esborracha-te.


- Adeus senhor padre e saúdinha.

publicado por gifted_children às 23:21
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