(continuação)
Guiou-me até ao café onde nos sentámos para conversar, mergulhei a cabeça no copo de água para ver se me passava o ardor nos olhos, mas só consegui pôr o nariz o que me fez espirrar continuadamente durante dez minutos.
- Então, diz-me, meu querido, quer dizer que tiveste saudades minhas, nunca imaginei é que passaram tantos anos.
- É para veres como são as coisas, acho que realmente nunca te esqueci e que nunca saíste do pensamento durante estes anos todos. Mesmo quando estava contente, sentia que algo me faltava, muitas vezes era dinheiro, outras devias ser tu.
- É que senti que quando me vendeste em Marrocos que não gostavas assim tanto de mim, estou a ver que me enganei. És tão querido. Claro que me custou um bocadinho a atravessar para Espanha com mais vinte pessoas num caiaque mas hoje não deixo de olhar para trás e achar graça.
- Pois ainda bem que te divertiste.
- Claro que tive de trabalhar seis meses a apanhar morangos para arranjar dinheiro para voltar para casa, mas tirei uma grande lição de vida.
- Foi, e que lição foi essa?
- Devia ter ido para a apanha da maçã, não sabia que os morangos cresciam tão em baixo... dores nas costas são do pior.
- É um facto, estamos sempre a aprender
Já estava a começar a vislumbrar qualquer coisa. Já conseguia ver aquela expressão doce, aquele sorriso complacente (ainda que tudo a preto e branco). Era de facto linda, a idade tinha-lhe dado um encanto e uma serenidade que me deixaram todo arrepiado, principalmente quando ela pegou na minha mão (ainda que fosse para colocá-la na bica, já que estava a beber o cinzeiro), mas tinha umas mãos de veludo e a cada toque eriçavam-se-me os pêlos dos pés.
- É tão bom ver-te de novo
- Para mim também seria, mas a verdade é que não consigo ver lá grande coisa.
- E diz-me, não tiveste ninguém mais especial durante todo este tempo?
A minha sorte é ter a capacidade inata que tem qualquer homem de acreditar naquilo que diz e tomar isso como verdade absoluta.
- Não não depois de ti nunca mais houve ninguém que me fizesse sentir aquilo que sentia por ti, nem de perto nem de longe. Foste demasiado especial para mim. Para mim eras o ar que respirava, o Sol que me alumiava, a laranja da vodka depois de ti o tempo parou, o céu deixou de ter estrelas, apareceram restaurantes chineses em todo o lado enfim, nada mais foi igual.
- Queres fazer sexo?
- Desculpa??!?!?
- Continuas sem ver nada?
- Basicamente quer dizer aquela rapariga ao balcão é gira?
- É a máquina do tabaco.
- Então continuo sem ver nada.
- É que sabes como dizem que como quem não vê os outros sentidos aumentam percebes? Mas tem de ser já, senão voltas a ver normalmente e deixa de ter graça.
- Aaaaaa está bem estou nessa, não vejo nadinha de nada, dá-me um murro para ver se me desvio. (Porra, era retórica agora tenho o nariz a sangrar.)
- Vamos no teu carro ou no meu?.. AhAh, era uma piada, sou mesmo divertida.
(continua)
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