O Destino por vezes prega-nos partidas, tenho a leve impressão que foi ele que me escondeu as minhas peúgas favoritas e uma ou outra vez apaga o esquentador para me obrigar a tomar banho de água fria. É um brincalhão. Vem isto a propósito de em todo este tempo nunca mais arranjei alguém que eu sentisse verdadeira afectividade, por isso e como todos os métodos são válidos quis o Destino, ele próprio, que nas minhas deambulações diárias encontrasse uma loja Esotérica que tinha escrito à porta: Tarot, Runas etc. etc. até ver uma que realmente me chamou a atenção, dizia simplesmente Regressões. Ora eu por mim regredir mais não posso, logo não tinha nada a perder. Espreitei à porta num misto de esperança e curiosidade, já que tinha experimentado de tudo, mas senti como que umas mãos a me puxarem lá para dentro. Foi uma senhora que me puxou pelos cabelos sentido desde logo que eu estava bastante interessado.
- Meu jovem veio ao sítio certo, sinto em si uma certa inquietação.
- É verdade, como é que sabe?
- Estás sentado em cima das velinhas de cheiro e as calças começam a arder.
- Ups de facto já me estava a sentir quente mas pensei que fosse do ambiente.
- Então o que te trouxe aqui.
- Você.
- Pois mas senti estranhas vibrações em si.
- Deve ser do frio, já que tremo que nem uma mosca amestrada.
- Deixe-me fazer-lhe o seu mapa astral para saber o que o futuro lhe reserva. Tem o BI, o Nº de Contribuinte e I.R.S.?
- É preciso isso tudo para me fazer o mapa? Pensei que fosse só preciso a data e a hora de nascimento.
- Não sabe estas coisas não são baratas, assim aproveita e faz um créditozinho.
- Mas eu estava mais interessado na história das regressões. A ver as minhas vidas passadas, essas coisas assim.
- Hum . Alguma vez foi hipnotizado?
- Uma vez, por um guaxini.
- Então sente-se aqui e relaxe pense num lugar distante e bonito, um local de paz, pense só em coisas positivas sente os seus olhos a ficarem mais pesados?
- Sinto, mas penso que foi dos chumbos que me pôs nas pálpebras.
- Estou a começar a sentir.
- Está? E eu que pensava que era só eu. Também comeu alguma coisa fora de prazo?
- Não é isso, estou a sentir quem é que você foi numa vida passada, as imagens começam a tornar-se cada vez mais nítidas, agora sinta a sua respiração e vai começar a sentir um sono profundo.
- Eu bem que queria, mas o estúpido do gato que tem aqui não pára de olhar para mim.
- Isso não é um gato é um morcego empalhado.
- Seja o que for, está-me a pôr nervoso.
- Pronto, já tirei a porcaria do morcego, agora veja se relaxa se não quer que eu me irrite.
- Posso pensar numa sueca alta e loira, normalmente esta visão dá-me um sentimento de paz profunda.
- Pense no que quiser, mas veja se pensa depressa que a minha vida não é isto e ainda tenho umas casas para mostrar.
- Acho que agora já estou pronto. Sinto-me uma verdadeira alforreca de tão descansado que estou.
- Pronto, vamos regredir uns anos na sua vida para buscar explicação para as suas preocupações. Bom, agora recuamos uns anos na tua vida, és agora um adolescente o que é que estás a ver?
- Chateava-se comigo se eu dissesse que continuo a ver o gato.
- Já disse que aquela coisa não é um gato, é um morcego empalhado.
- É que é mesmo parecido com um gato que vi numa revista.
- Consegues abstrair-te da porcaria do morcego ou tenho de te bater.
- Não é preciso, já tenho 17 anos.
- Estava a ver que tinha de tomar medidas drásticas e bater-lhe com um pau Tens 17 anos, diz-me o que sentes, o que se passa à tua volta?
- Estou na escola secundária. Soube que a minha professora de Matemática ia-me dar negativa, quando a confrontei disse que era lógico pois não tinha tido nenhum teste positivo ao longo do ano, raramente aparecia a horas às aulas, era um ser reles e miserável a além disso piscava o olho à contínua do 2º piso. Isso foi um momento marcante e a partir desse dia nunca mais comi nada que tivesse noz-moscada. De qualquer maneira apesar daquele mau feitio não conseguia deixar de me sentir atraído por ela. Sabe é que sou um adolescente e aqueles óculos e o carrapito faziam-me suar de noite.
- Agora vamos um bocadinho mais para trás agora tens 10 anos de idade estás a sair da escola primária, o que vês?
- Vejo um gato desculpe, um gato não vejo. Estou no recreio da escola e enquanto os colegas brincam eu lia à minha professora primária À Espera de Godot do Samuel Beckett tentando explicar que a obra dele expressa o absurdo da condição humana e o seu niilismo radical só é compensado pelo humor. Apesar dos seus 76 anos ainda a achava uma mulher interessante e muitas vezes dissertávamos sobre a poesia do Walt Whitman, mas acho que ela me via apenas como uma criança, apesar de por duas vezes a ter tentado beijar levei sempre com o apagador.
- Bem tudo me leva a fazer pensar que foste um ouriço-do-mar noutra vida
- Um ouriço??!! Veja lá melhor? Eu sempre quis sempre ser um Leão, um Tigre, assim um animal majestoso. Agora um ouriço??!
- Esta história das regressões não engana, tenho pena mas não passas de um ouriço!
- Veja um pouco mais para trás que pode ser que encontre um animal mais de acordo com as minhas expectativas.
- Desculpa, mas nesta altura só consigo ver um gato quer dizer um morcego.
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