Quinta-feira, 22 de Abril de 2004

A minha namorada - a consulta

Não tenho mesmo sorte nenhuma… fui despedido, apenas porque eles não gostaram da brilhante ideia que eu tive de me fingir de dentista e aproveitar as pessoas estarem de boca aberta e empurrar-lhes as pílulas pela boca abaixo… não têm a mínima noção de marketing. Quem mandou aquele parvo ter-me pedido para lhe arrancar o dente que lhe doía e eu tirei-lhe os outros todos e pus-lhe uma prótese que não lhe cabia na boca. Que culpa tenho eu que não conseguisse mastigar. Há pessoas mesmo mesquinhas. Que tédio.


Acho que vou ter de abandonar a ideia de ter um emprego, pois sou um espírito livre que não se revê em horários, restrições, pontualidades, assiduidades, ter apenas 3 horas para almoço ou criar galinhas carecas no quintal. Tenho de ver se arranjo um lugarzinho na função pública. Com isto tudo sinto que cada vez me fazes mais falta, sempre me orientavas e agora tenho sempre dificuldade em saber qual é o sapato que devo calçar em cada pé. E até te desculpo o que me fizeste para aprender, compraste uns sapatinhos de ballet fazendo-me andar em pontas durante duas semanas, o que me foi muito útil pois hoje faço uma "Pirouette en Dehors"com grande exuberância e danço o”O Lago dos Cisnes” como uma graciosidade inigualável.


Acho que realmente aprendi e como se costuma dizer “um dia é da caça, outro é do caçador” (apesar de apenas o caçador parecer se divertir), mas isto vem a propósito o facto de ser eu agora que espero à porta de tua casa para poder vislumbrar-te, nem que seja apenas por um instante.


Começo a questionar-me se estarei mentalmente saudável, e que devia com toda a certeza consultar um psicólogo, de preferência uma psicóloga pois sinto-me mais à vontade com mulheres. Como não queria escolher qualquer pessoa fui às Páginas Amarelas e marquei consulta à que tinha o anúncio mais apelativo.


- Boa tarde Drª.


- Boa tarde, faça o favor de se deitar e diga.




- Bem… a verdade drª. É que ando a sentir-me dominado por um sentimento de impotência e de incompreensão incomensurável que me deixa por vezes num estado catatónico, onde me assaltam pensamentos pungentes de convicções e que tenho alguma dificuldade em controlar.


- Isso é muito interessante, e o que é que isso o faz sentir?.


- Acabei agora de dizer.


- Quer dizer, assim por outras palavras é que você é o meu primeiro paciente e não tenho muita prática.


- Bem isto no fundo para dizer que o meu processo de hominização e considerando-me um ser hiper-complexo, produto da cultura e da natureza, dotado de um cérebro cuja constituição permite-me tanto sonhar como enlouquecer, como conceber-se a mim próprio. Percebe onde quero chegar?. Mas a mim tudo me soa muito vago.


- Hummm… e o que é que isso o faz sentir?!!


- Eu sei que tenho alguma dificuldade em me expressar mas levando em conta o conceito de entropia, em que a desordem é condição para novas formas de organização, permite-me um ecletismo conceitual e, ao mesmo tempo, oferece-me condições para uma prática em que a experiência humana é passível de erro, mas que a partir dele e consciente do mesmo encontra novos paradigmas.


- Sim… estou a ver, estou a ver, e isso de alguma maneira afecta a maneira como se sente... naturalmente.


- Sim, afecta mas nada que enquanto a totalidade busca o sentido da minha existência, ao mesmo tempo encarna a própria significação. Esta busca de sentido para mim pode relacionar o visível e o invisível, o imanente e o transcendente, o real e o imaginário, o ser e o devir.


- Aaaaaa… pois, pois pois, e isso faz sentir-se?!….


- Com falta de sexo Drª... apenas com falta de sexo.

</blockquote>
publicado por gifted_children às 22:50
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Terça-feira, 20 de Abril de 2004

A minha namorada - o emprego

Depois das minhas merecidas férias voltei para casa e senti um estranho sentimento de vazio, e o pior é que não era um sentimento, o apartamento estava mesmo vazio. De imediato fui falar com a minha vizinha a quem tinha confiado a chave para me regar o meu cacto de estimação e o meu boneco que cresce relva na cabeça.


Com a sua boa disposição habitual disse-me que tinham vindo uns senhores de uma empresa de mudanças que simpaticamente lhe tinham dito que eu iria mudar de casa e que iam levar tudo, e nem o facto de lançarem todo o mobiliário pela janela a fez desconfiar de nada.


Claro que me irritei com a senhora e apesar de todos os meus esforços para lhe bater com o regador de plástico escapava-se com grande agilidade para quem tem 92 anos e só me lembro de acordar com uma caçarola na cabeça.


Foi a gota de água, agora mais do que nunca tinha que arranjar trabalho. Estava já habituado a viver com aquilo que tu me davas e agora perdi tudo. Claro que arranjar emprego hoje em dia não é tarefa fácil e eu não me sujeito a qualquer coisa por isso fui vender produtos da Herbalife.


Nem foi muito mau o meu primeiro dia neste excitante emprego. Pus o meu pin a dizer “I Love Herbalife” e fiz-me à estrada com uma malinha toda catita com preciosa informação sobre tão grandioso produto, consegui mesmo encarnar o espírito da coisa.


Claro que tive de superar todos os meus problemas de timidez o que me leva a gaguejar sem parar e a imitar um elefante em fase de acasalamento, e preciso de pelo menos meia hora para conseguir articular meia dúzia de palavras.


Parei junto a uma senhora que me parecia ser o meu alvo, era magrinha, magrinha a pobre senhora, mas como não me parecia muito inteligente fui tentar a minha sorte.


- Ora bem minha senhora, tenho aqui um produto que pode modificar a sua vida para sempre.


- Espero que seja uma massajador facial para ligar à corrente pois estou farta das pilhas se acabarem quando estou na melhor parte.


- Não minha senhora, tenho aqui um produto absolutamente revolucionário que a vai fazer perder 30 kilos em duas semanas e se conseguir se manter viva verá resultados absolutamente extraordinários.


- Acha mesmo que preciso de perder 30 kilos??!… de facto tenho aqui um bocadinho de pneu e já me custa a respirar nestas calças que comprei aos 16 anos.


- É garantido, minha senhora, se tomar os nossos produtos garanto-lhe que fica com o corpinho de uma top-model, e ainda de extra é capaz de crescer 20 cm.


- Isso parece realmente muito bom, sempre quis ser mais alta. E já agora consegue-me por os pés mais pequenos, é que de facto pareço um pinguim.


- Não tem que temer, não sei se vai conseguir reduzir o tamanho dos pés, mas depois de tomar os nossos produtos provavelmente essa será a sua última preocupação.


- E não tem efeitos secundários?


- Acho que não, mas se acordar com penas aconselho-a um especialista na Suíça.


E assim fiz a minha primeira venda minha querida, como vês não sou aquele inútil, mandrião, preguiçoso, hipocondríaco que estavas sempre a dizer. Acho mesmo que trabalhar aumenta a minha auto-estima e tenho a certeza que ainda te vou voltar a reconquistar. Tenho saudades tuas e continuo a gostar de ti.

</blockquote>
publicado por gifted_children às 00:22
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Quinta-feira, 15 de Abril de 2004

A minha namorada - as férias

Estou triste e só. Sinto a tua falta e já não tem graça estar sozinho. Passo a vida a olhar para o telemóvel na esperança de uma mensagem, uma chamada não atendida ou que alguém por engano o tenha carregado com uma quantia choruda. Mas nada, por vezes começo a digitar o teu número mas quando chega a altura de marcar lembro-me que o devia ter gravado e agora já não me recordo.


Ofereci-me um ovo gigante da Kinder para me sentir enquadrado na época e fui para o Algarve durante uns dias para poder pensar no rumo que a minha vida está a levar, e em todas as possibilidade que se me deparam agora que não tenho ninguém para me chatear.


Quando estava sentado numa bela esplanada a beber um cafezinho e uma água com gás e a degustar um donut que vejo vir em minha direcção o teu amigo Quim. Abraçou-me com ar de pesar o que me pareceu um pouco amaricado, já que abraçar-me em público no meio de tanta gente deixa qualquer homem que é homem embaraçado. Desconfio sempre dos homens dizem que são amigos de mulheres, ou estão a tentar penicar qualquer coisa, ou então são gays. Eu com esse teu amigo inclino-me mais para a segunda hipótese. Parvalhão.


- Como que então andas por aqui?!


- Não, é só o meu corpo, a minha áurea levitou e foi dar uma volta para ver as vistas e almoçar mas já volta daqui a um bocadinho. Se não te importares de esperar ela já volta.


 -… És muito engraçado… bom, não queria que soubesses por outra pessoa, ou que alguma coisa fosse mal interpretada… mas ando a sair com a tua ex. Tem sido difícil para ela… tenho-lhe dado todo o meu amparo, mas somos só amigos!!


Amigos, não é!!?, eu bem que tinha razão… abutre. Andou a rondar tanto tempo e agora o corpinho ainda não arrefeceu e já está em cima a dar umas bicadazinhas. Por uma razão obscura fiquei com ciúmes e nesse momento comecei a ver a cabeça dele a transformar-se numa marmota. Aguentei, pois não sou de fazer cenas apesar de lhe tentado espetar o garfo no olho com a desculpa de lhe tirar uma pestana, mas ele esquivou-se com grande habilidade.


- É bom ter amigos. Ela sempre falou sempre bem de ti, e nem o facto de teres ficado calvo aos 14 anos a parece incomodar.


- Pois, eu sei. Temos falado bastante, ela continua a gostar bastante de ti… apesar de tudo, mas o que te passou pela cabeça?. Tinhas aceitado casar, e depois quando tudo estava preparado desististe, conta-me amigo, o que se passou, fala comigo, desabafa.


Neste instante a minha áurea chegou e estava muito bem disposta, pois tinha comido uma excelente caldeirada de enguias. Bolas, era o que me faltava ter de desabafar com este idiota que aos 30 anos ainda é a mãe que lhe escolhe a roupa.


- Não sei, comecei a ver os programas do Goucha de manhã, e de facto comecei a ver que tinha tanto ainda para viver e que não queria acabar assim.


- E o que é que uma coisa tem a ver com a outra?


- Nada.


- Não percebo!


- Nem eu, por isso achei melhor por fim a tudo.


- Estou confuso.


- Exactamente, foi como eu fiquei, percebes agora onde quero chegar.


- Não faço a mínima ideia.


- Nem eu, mas na altura pareceu-me bem.


- O quê?!


- Não me estás a acompanhar?


- Eu bem que queria, mas já me começa a doer a cabeça.


- Bem me parecia que não irias entender.


- Talvez se te explicasses melhor…


- Se me explicar melhor apreendes tudo.


- Não era essa a ideia? Estás a complicar-me e estou ainda mais confuso.


- Viste, mais uma vez chegaste lá, vejo que me começas a entender. E digo-te que é óptimo poder contar com o teu apoio.


- ?!?!?!?!?!?!?!

</blockquote>
publicado por gifted_children às 00:23
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Quinta-feira, 8 de Abril de 2004

A minha namorada - 1ª saída 3

Gatinhámos até chegarmos ao apartamento dela, que apesar de ficar a 10 minutos a pé, demoramos cerca de 6 horas porque nos enganámos no caminho, fomos em sentido contrário, e quando demos por nós estávamos na ponte Vasco da Gama. Foi um pouco embaraçoso ter de passar a ponte às cavalitas dela, mas começou a explicar qualquer coisa sobre a revolução chinesa e não tive paciência e deixei-me ir, o que me deu tempo para tirar uma soneca.


Apesar da casa parecer um motel de 3ª categoria pois estava todo pintado de vermelho, e era uma constatação óbvia que era um bocadinho deprimente, mas já que já lá estava não havia volta a dar. O pensamento que sempre me animou foi sempre a ideia de que as raparigas de esquerda eram menos convencionais e muito mais liberais, o que era indício de que alguma coisa de boa podia acontecer.


- Tens um apartamento todo giro… todo… vermelho… as cortinas pretas dão um toque acolhedor… foste tu que o decoraste sozinha ou tiveste ajuda? (Bolas que via vermelho por todo o lado, o que me começou a provocar náuseas e fiquei com a estranha sensação de estar a andar dentro das veias de alguém).


- Sim, fui eu que fiz tudo, não está engraçado?


- Hum… sim… pelo menos tudo combina na perfeição.


- Queres beber alguma coisa?


- Pode ser, estou com um bocadinho de sede…


- Só tenho sumo de tomate.


Era de prever!. Veio com uma caneca em forma da barba do Fidel Castro e brindamos a todos os que são oprimidos, explorados, ao proletariado e ao Mateus Rosé (esta foi ideia minha, mas pronto, não era muito vermelho e apesar de considerar tudo o que é vinho engarrafado burguês lá brindou contrariada).


Depois mais uma vez entusiasmou-se e começou a falar de começarmos uma revolução, ao que tive de retorquir que não era muito bom a começar coisas e raramente acabo algo. Começou com grandes planos de fazer uma manifestação à porta da Assembleia da República (o que seria apenas fazer uma figura ridícula, pois não se pode considerar manifestação a duas pessoas aos berros de um lado para o outro), greve da fome (o que era pouco viável já que raramente consigo estar mais de duas horas sem comer, senão fico realmente esfomeado), ou mesmo medidas mais radicais como dançar um pas de deux ao ritmo de música em mímica.


A coisa realmente não estava a correr como esperado e já começa a sentir uma necessidade de me por a milhas e pôr mais que de vez em quando fiz alusões a questões de aspecto mais sexual, expondo-lhe os princípios da partilha, de nos despojar-mos de tudo (obviamente falava da roupa interior) a conversa acabava sempre no pensamento trotskyano de uma sociedade sem classes onde todos seríamos iguais (obviamente que haveria sempre uns que saberiam sapatear melhor que outros).


Inventei a melhor desculpa que pude para me pôr a andar dali para fora, não sem antes ela me oferecer o Manifesto Comunista de Markx e Engels, e uma edição completa de livros de bolso do José Saramago.


Preciso arranjar uma vida.


</blockquote>
publicado por gifted_children às 00:21
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Segunda-feira, 5 de Abril de 2004

A minha namorada - 1ª saída 2

(continuação)

Sentei-me tentando limpar as calças às bases de copos. Pedi mais uma rodada, e mais outra, e à medida que ia bebendo parecias-me cada vez mais bonita. À quinta cerveja já me parecias a Gisele Budchen num dia muito mau.

- Então que fazes aqui sozinha?. Uma miúda gira como tu não devia estar acompanhada.


- Eu gosto de estar sozinha, mas por vezes aparecem uns chatos…


Não me toquei, esta era definitivamente uma pretensiosa intelectual de esquerda, uma daquelas cientistas sociais que gosta de assumir-se como pensadora do socialismo democrático. Ainda assim não quis ir por aí, seria demasiado começar uma relação baseada em politiquices, mas a mulher tinha os tiques todos. Aquele ar enfadonho de quem sente a responsabilidade do mundo às costas, via conspirações em todo o lado e de vez em quando dava-lha para gritar frases de ordem contra a guerra no Iraque e o preço da sopa de tomate em lata, o que me irritou um bocadinho. Até porque de vez em quando dava-lhe para subir à mesa e cantar “Grândola Vila Morena” com especial fervor.


- Mas diz-me, tens alguém especial na tua vida… um gato persa ou um namorado por exemplo?


- Não, não tenho, não preciso, nem quero ninguém.


É um facto provado que se uma gaja não tem namorado algo de errado se passa com ela. Alguma coisa terá. Não há teoria que resista àquela treta de que agora preciso de um tempo só para mim. É suspeito. Mas de qualquer maneira continuei a indagar.


- Sabes, se quiseres, podemos ir para um barzinho mais calmo que eu conheço onde podemos conversar mais à vontade.


- Conheces?! Onde?. Vamos então.


Esta mania de dizer as frases dos filmes não saiu lá muito bem, a verdade é que não conheço mais porra de bar nenhum. E além disso já não tenho dinheiro para pagar o que bebi, espero que ela não se importe de pagar a conta.


- Aaaa… sabes, se calhar é melhor ficarmos por aqui, ainda por cima está a dar uma música que adoro e me marcou muito.


- A Macarena???!!


- Hum… pois… é esse o nome?. Ainda bem, assim já posso ir comprar o CD, obrigado. Bons tempos esses. (obviamente tentei fazer a coreografia, o que além da ridícula figura parecia que estava a ter espasmos musculares nas zonas lombares).


- És parvo


Mais uma vez ergueu-se sobre a mesa e começou a clamar “O povo unido jamais será vencido”. Agora gritando em plenos pulmões e de punho cerrado pedindo a toda a gente para a acompanhar o que transformou o bar num comício do PCP.


- Bem, e que tal aproveitar a confusão e fugir sem pagar, podíamos ir para tua casa ou para a minha, aquela que chegarmos primeiro a gatinhar, pois já não me aguento em pé.


- Vamos. Poder para o povo e abaixo estes chupistas capitalistas que nos levam o dinheiro todo. O preço de uma cerveja paga o barril, e alimentava 1000 crianças na China, exploradores do povo e vão todos para a …


- Ok, ok, vamos… tens a certeza que não estás sob medicação?! Ufa.

(continua)

publicado por gifted_children às 21:38
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Sexta-feira, 2 de Abril de 2004

A minha namorada - 1ªsaída

Consegui finalmente me libertar da tua presença e cheguei ao ponto em que preciso de encontrar outras pessoas (tenho encontrado muita gente, mas no Jumbo não conta). Comprei uma camisa toda linda, meti gel no cabelo e aqui fui eu para a noite. Quer dizer eu não fui para a noite, a noite já lá estava, mas pronto, fui sair de noite a um bar.


Acho que ainda conservo um charme muito próprio e tenho uma beleza alternativa que tenho a certeza que ainda cativa muitas mulheres, foi pena durante este tempo teres-me desgastado tanto que parecia ser mais novo do que sou.


Sentei-me ao balcão e pedi uma daquelas bebidas cheias de cores e só me apercebi que era bebida de gaja quando todos soltaram risinhos enquanto punham uma palhinha na garrafa. Claro que me senti um pouco mal e pedi logo uma cerveja e dispensei o copo, imaginas eu, hum?!


O cenário estava perfeito, a casa cheia de mulheres bonitas que soltavam gargalhadinhas idiotas e tiravam fotografias umas às outras com os telemóveis, neste momento sinto pena de já terem acabado aqueles telefones grandes de moedas para lhes bater até ficar sem forças. Contive mais uma vez os meus impulsos e fingi que me divertia conversando sozinho com a máquina de setas.


Numa mesa estavam duas raparigas muito jeitosas e resolvi que tinha de dar o passo para finalmente travar conhecimento com elas. E como sempre fiz uma excelente abordagem, tenho visto muitos filmes americanos.


- Posso??!


- Sim, sim, já acabamos, e já agora pode despejar o cinzeiro que já estamos a mastigar as beatas.


Abordagem abortada. Decididamente não eram o meu género de miúdas.


Dei mais uma voltinha até que vi uma criatura encantadora. Desta vez não podia falhar. Era muito feia, mas a bebida já fazia efeito e já me parecia linda de morrer. Fui mais subtil desta vez e fiz a pergunta clássica que nunca falha.


- Olá, eu já não te conheço de qualquer lado? (repara que este pequeno truque apesar dos mais modernos acharem completamente fora de moda ainda tem muito poder.)


- Não.


- A sério, olha que eu juro que já te vi em qualquer lado, talvez na televisão! (falamos na televisão e elas pensam logo têm aspecto de artista ou de pelo menos de figurantes do Levanta-te e Ri)


- Não, a única vez que apareci na televisão foi numa câmara de vigilância num assalto a uma bomba de gasolina.


Ri sem vontade nenhuma com uma gargalhada gélida… esta já estava no papo. Fazia-se de dura, gosto disso.


- Se calhar foi daqui, é que sabes… venho aqui muitas vezes e até tenho um cartão da casa, (mostrando rapidamente o cartão do clube de vídeo.)


Ter um cartão da casa é uma coisa muito importante e não há mulher que resista, apesar desta não me parecer ter ficado minimamente impressionada. Fui à carga com o ultimo trunfo.


 - Posso pagar-te uma bebida? Hum?!


- Tenho cara de quem não pode pagar as próprias bebidas?


 Agora comecei a ter saudades tuas e só me apetecia ter uma almofada de penas para lhe bater até ela ficar transformada em galinha.


- Claro que não, mas estás sozinha, eu estou sozinho, podíamos conversar um pouco, eu contava-te as minhas desgraças, tu contavas-me as tuas desde que não sejam muito grandes, pois sou muito sensível e não tenho muita paciência para lamúrias. E doenças não por favor, senão vou ficar com todos os sintomas.


- Tudo bem, já te podes levantar do chão e sentar-te na cadeira, estás a fazer uma figura ridícula e além disso estás em cima de vomitado.


(continua)

publicado por gifted_children às 23:17
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